domingo, 26 de fevereiro de 2012

LÍQUIDO QUENTE QUE (ME) ESCORRE PELA GARGANTA



                                        
  Parei de tomar café. Estava amarelando meus dentes. Estava amarelando minhas páginas. Minhas palavras, não-ditas, amarelavam dentro de minha boca, e achei que era questão de cortar a cafeína.

Na verdade, o que amarelava era minha alma...

Passei incólume pelo cigarro, álcool, maconha, cocaína, crack, ecstasy, ácido, anfetaminas, cogumelos e azeitonas.... bem, ao menos não me viciei. Não poderia me deixar dominar por um estimulante tão básico.

O caldo negro que agora escorre de minha boca é petróleo...

Estava amarelando também minhas noites, quando eu via. Já era dia quando o efeito passava, eu ia dormir e depois só queimando minhas pestanas com café fervente é que eu conseguia abrir o olho.

Fora que nunca gostei do gosto. Tomava nescafé mesmo, em pints, apenas pelo efeito que causava. Intercalando com copos de coca light, em certas épocas, até derramando um Red Bull por cima. Pensa que estou brincando? Tenta trabalhar todo dia em casa, manobrar vida de atleta e intelectual num mesmo corpo. Levantar todo dia, sem horário e sem patrão, muitas vezes sem razão, e se forçar para fora da cama, para fora de casa, para a esteira e para a piscina, para os pesos e aparelhos. Só a vaidade e o café faziam isso comigo.

Agora não tenho mais vaidade... Ou ao menos ela não é mais solúvel.
(Santiago Nazarian)

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